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  • Foto do escritorAna Claudia

Renascer - O que acontece depois do nascimento?

Dizem que quando a gente vem ao mundo estamos sendo lançados em uma aventura, e eu posso dizer que é isso mesmo. Dar as caras no mundo real é desafiador sabe? Lá de onde a gente vem, o mundo é quentinho, com som ambiente, e a gente não imagina muito o que vai ver quando sair de lá, mas a verdade é que todos nós viemos desse lugar. Mas, tudo começa a ser diferente assim que a gente sai dali. As pessoas que te esperam, os barulhos que vai ouvir, a temperatura que vai sentir, tudo de repente, muda. E a gente não tem lá muita escolha, a não ser, ir e encarar o mundo.


Mulher grávida, com as mãos no entorno do seu ventre. Imagem em P&B.

Fonte: Site Unsplash. Mulher grávida, imagem em preto em branco.


Me contaram que apesar de tudo mudar, a gente recebe ajuda de uns humanos, parece que chamamos eles de família, mas vou contar um segredo, comigo não foi bem assim não. Meus primeiros dias por aqui foram uma loucura! Eu sentia e sabia que alguma coisa não estava certa, mas nem sabia dizer o que. E depois fui descobrir que tinha mais coisa fora do lugar do que eu podia imaginar, mas aparentemente é assim mesmo, a gente chega e cada um tem aí sua aventura, boatos que uns são mais sortudos que outros, mas no fim das contas, eu acho que apesar de tudo, ganhei na loteria.


Quando cheguei, passei os primeiros dias sozinha, as primeiras horas foram com certeza as piores, não consegui entender muito bem o que aconteceu, mas foi tudo muito estranho, era meio sombrio e eu não sabia me virar, até porque pra gente saber se virar demora um tempo. Em algum momento um pessoal veio me ajudar e ficavam de olho em mim, mas sabe, até isso acontecer eu já estava com medo, receosa com o mundo, e não sabia muito o que fazer, tudo era desconfortável.


Depois de 20 dias finalmente encontrei uma base, uma família que me acolheu. Mas tudo ainda era muito novo, eu tinha dificuldade pra me conectar com eles, e todo o resto, acho que dei um pouco de trabalho descobri que a comunicação que eu tinha com o mundo era chorar, então eu fazia isso bastante. Mas as surpresas não param por aí, eles me levavam numa tal de pediatra, que surgiu com a notícia de que eu tinha uma paralisia cerebral, eu não entendia muito, mas acho que a notícia não era muito favorável pra mim, senti que aqueles humanos que estavam cuidando de mim ficaram um pouco tensos com a notícia, mas eles foram rápidos, atenciosos e cuidadosos.


Com isso eles começaram a dar remédios, eram vários por dia, mas começaram a funcionar, às vezes eu tinha algo que vocês adultos chamam de convulsão, mas com os remédios fui melhorando e até dormir era mais agradável. Também que fui pegando confiança neles, acho que se não fosse por eles a situação não ia ficar boa para o meu lado. Demorou um tempo mas comecei a sorrir, para mim foi mágico e acredito que para eles também, com o tempo fui me desenvolvendo, até comecei comer outras coisas, como papinhas de frutas. Comecei a ir no Sorri também, e lá consegui começar a comer papinhas salgadas e não iria mais precisar de sondas, isso foi bem legal.


E aí descobri que essa família era provisória, então um tempo depois fui conhecer aqueles que possivelmente iriam me adotar, no começo foi um pouco tenso para todos nós, eu ainda não havia me separado nem por um instante daqueles rostinhos que me acolheram e cuidaram de mim até aqui, mas no fim a experiência foi ótima e todos nós nos adoramos, mas sabe, se não fossem aqueles que cuidaram de mim nesses primeiros meses eu nem chegaria até aqui.


Então, veio a boa notícia! Ia dar certo, aí para minha cabecinha foi primeiro um misto de sentimentos. Vejam vocês, que já nasceram na família que ficam, eu me apeguei a minha família provisória, mas sabia que precisava ir, e que de alguma forma eles sempre iam fazer parte da minha história. E enfim, depois de quase 6 meses estava indo para casa com minha nova família, mamãe e papai estavam radiantes. E apesar de poucos meses de vida, nesse tempo aí eu troquei de nome umas 3 vezes, hoje tenho o nome que homenageia minha bisavó.


Já se passaram 4 anos e posso dizer que estou bem feliz, tudo está bem por aqui, tenho crescido e a descoberto a vida. Ah, às vezes mamãe manda notícias para aqueles que foram minha família provisória. O amor de todos eles por mim foi o que me trouxe até aqui, e queria contar isso pra vocês!



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